Tem uma estante de livros de bolso, daquelas redondas que giram divertidamente, na loja de conveniência do posto de gasolina em frente ao meu trabalho. Fico lá, brincando de rodar e rodar, pensando na vida, enquanto tomo meu café da tarde.
Vi algo me sugou brevemente para fora das minhas divagações. Foi um livro vistoso, com uma montanha azul e um pequenino alpinista, com a frase “como dar o melhor de si mesmo”. Uma capa bonita – as vezes é o que chama atenção.
Não pude evitar a reflexão: se é o seu melhor, por que você daria aos outros? Foi a primeira coisa que me ocorreu, que geralmente ninguém dá suas melhores coisas, guarda pra si.
Que bobagem – pensei -, dar o melhor de si significa ser uma pessoa melhor!
Peguei, então, o livro em mãos para folhear e, quem sabe, absorver alguns pensamentos que pudessem me ajudar. Qual não foi minha surpresa ao notar que o livro tratava, na verdade, de como ser mais eficiente. Um livro para otimizar minha performance!
Levantei meus olhos por sobre o livro para pensar e notei latinhas de bebidas estimulantes na geladeira logo à frente. Meu celular então vibrou, mostrando que começaria uma reunião em 5 minutos.
Para não me atrasar, larguei o livro e fui direto ao caixa – não tenho tempo para pensar. No balcão, tinha uma revista masculina com “dicas para prolongar a ereção”, que me lembrou os clássicos spams de e-mail sobre aumentar o meu pênis. Uma outra matéria, essa de tecnologia, sugeria cronometrar meu dia em intervalos alternados de 28 minutos de trabalho e 5 minutos de descanso. Vinte e oito, não trinta.
Evitando as revistas, peguei um chocolate e me dirigi ao escritório. Ao morder, percebi que não era chocolate, mas sim aquelas barras de maltodextrina para dar energia – uma porcaria, odeio.
Cheguei a tempo, no escritório, para a reunião de feedback – é onde te dizem se você está trabalhando bem. Não estavam felizes: minha produtividade tinha caído!
– Diego, você está desmotivado? – perguntaram.
Demorei para responder, perplexo.
Por que, meu Deus, o mundo quer tanto aumentar a minha performance?
Me dizem que devo ser mais rápido e mais inteligente. Mais forte, viril e transar melhor que os outros. Ser mais bonito, mais desinibido e mais engraçado. Ser bom não basta, preciso ser o melhor.
Minha performance se tornou a régua pelo qual meu valor é medido. O sucesso – a mais nobre medalha – é concebida aos mais eficientes, azeitadas máquinas de produzir resultados. O fracasso – vergonhoso, pífio – destinado aos lentos e medianos.
Uma grande amiga, semana passada, confessou, com tristeza: sou um fracasso, não consigo emprego e vou reprovar na faculdade. Isso doía nela, e doeu em mim…
Mas agora ficou claro que não existe essa bobagem de fracasso nem sucesso. Sua vida não é uma engrenagem, utilitária, que deve servir a qualquer propósito. Trabalhar é preciso, estudar é precioso, mas a vida é muito mais do que isso.
Dar o melhor de si não é fazer as coisas com mais eficiência, mas sim tentar fazer as melhores coisas. É abraçar quem ama, ajudar quem precisa, combater injustiças, compreender erros. É ser uma pessoa que torna as outras melhores.
Se você quer ser o melhor de todos, você não quer que os outros possam ser melhores que você. Ser o melhor de todos não é dar o melhor de si, é guardar o melhor para você.
– Diego! Você está desmotivado? – insistiram.
Respondi:
– Estou dando o melhor de mim.
O que achou?